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Sou uma selva de raízes vivas, de Alfonsina Storni

Indicar um livro de poesia é sempre espinhoso porque não sei como fazer isso. Se existir uma fórmula com certeza passo distante dela. No máximo, chego aqui, como agora faço, e registro as experiências e tento inspirar de algum modo.


Ler é sempre uma experiência distinta, até mesmo quando relemos. E como adoro manter essa estranheza por perto, sempre deixo na mesa de cabeceira um livro de poesia. Atualmente tenho Amar se aprende amando, do meu querido Drummond. Às vezes leio um, dois ou vários poemas – depende do tempo disponível no dia. E, às vezes, pego um livro para ler inteiro para tentar entender a peça completa.

Foi o que aconteceu com Sou uma selva de raízes vivas, de Alfonsina Storni.


Nascida na Suíça no final do século XIX e reconhecida com nacionalidade argentina, Alfonsina teve a condição de imigrante, a questão de gênero e classe social cruzadas em suas palavras. Iniciando a carreira de escrita em jornais, foi a cronista e poeta que ninguém esperava.


Digo isso porque ninguém daquela sociedade patriarcal do início do século XX conseguia assimilar ou admitir que uma mulher escrevesse sobre o corpo feminino e a liberdade sexual, a paixão e desejo de liberdade e como a vida caminha, invariavelmente, com a (ou a falta de) consciência de classe.


Intelectuais da época (Borges e Bioy Casares são ótimos exemplos) torciam o nariz para os escritos de Alfonsina, apontavam que ela escrevia como um homem e para homens. Storni sabia disso e mesmo assumindo esse lugar de “virilidade” sabia que não perderia sua “feminilidade”. O que me faz lembrar da poeta Sor Juana Inés de la Cruz, que ainda no século XVI já sabia que, sendo mulher, precisaria ocupar espaços ditos masculinos para conseguir ser poeta e intelectual.


Alfonsina entendia que as letras eram um espaço de transgressão e escrever era um movimento contínuo de construir/entender sua identidade como mulher, poeta, operária, jornalista e mãe.


Finalizo com uma estrofe de A loba:


Eu sou a loba. Ando sozinha e dou risada

Do rebanho. Não preciso de nada. Quem me sustenta sou eu.

Seja onde for, pois tenho uma mão que é hábil,

Um cérebro ágil e não deixo por menos.

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