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Eu o Supremo, de Augusto Roa Bastos

“Eu o Supremo Ditador da República

Ordeno que na ocorrência de minha morte, meu cadáver seja decapitado; a cabeça posta em uma estaca por três dias na Praça da República onde se convocará o povo ao som dos sinos deixados ao vento.”


Com a leitura dessa mensagem iniciamos a aventura entre biografias, decretos, documentos, imagens e metáforas que trabalham para trazer à tona a memória coletiva do Paraguai.


Eu o Supremo não é um livro tão conhecido, Roa Bastos (1917-2005) não é um autor tão badalado como alguns outros da mesma época aqui na América Latina, mas o seu livro é um marco em nossa literatura e na vida de leitores que se permitem ler esse grande monólogo de um ditador perpétuo.

Diferente de outros romances de ditador (já produzi vídeo explicando esse conceito) a principal diferença de Eu o Supremo é o olhar do narrador, um olhar do exílio e suas frustrações que relatam um ser complexo, cruel, de humor ácido, mas que vivencia fases de afeto e até generosidade, mas sempre moldados dentro de um sentido de pátria, como se pudesse efetivamente transmitir toda a vontade de um povo.


No livro, o humor é um elemento essencial que funciona como engrenagem que movimenta sua maior tarefa: o tratamento e dissecação do mito do poder absoluto que é, entre outras coisas, a desgraça do Supremo.


Durante a leitura, lembrei da minha experiência de leitura com Roberto Bolaño e suas aproximações da arte com a barbárie. Nos inúmeros livros do autor, lemos e conseguimos visualizar que a arte está assustadoramente próxima da crueldade. Aqui, o Supremo usa da erudição para justificar atos de tortura, assassinatos, perseguições e privação de liberdade que comete com o povo paraguaio.


Ler Eu o Supremo é ler o trabalho de compilador de Roa Bastos que reuniu dados e, a partir deles, construiu seu aparato imaginativo. No final das contas, para nós leitores, não há a impressão de estarmos lendo uma mentira, mas uma provocação inteligente, uma espécie de prolongamento da realidade.


“A memória não recorda o medo. Transformou-se ela mesma em medo.”

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